segunda-feira, 11 de março de 2013

Bon Jovi e a eterna busca por um disco atemporal


Cantor fala da longevidade, do viés político de suas letras e da vinda ao Rock in Rio.

Novo disco da banda, ‘What about now’ será lançado nas lojas virtuais nesta segunda e às físicas no dia 19.
 
 NASHVILLE (EUA) - E lá se vão 30 anos desde que John Francis Bongiovi decidiu batizar a banda com uma forma estilizada de seu sobrenome: Bon Jovi. Era uma época em que os integrantes desfilavam por videoclipes e pelos palcos um figurino de gosto duvidoso para os padrões atuais, cabelos volumosos, bandanas e dezenas de canções que falavam de amor e desamor. Hoje, com um visual mais sóbrio e letras com uma pegada mais política e ideológica, Jon Bon Jovi, Richie Sambora (guitarra e vocais), David Bryan (teclado) e Tico Torres (bateria) integram uma das bandas de rock mais duradouras e bem-sucedidas da História, com mais de 135 milhões de discos vendidos e passagem por mais de 50 países, incluindo vindas históricas ao Brasil, como no Hollywood Rock de 1990. Após uma apresentação de 3h e 26 músicas em Nashville, no estado americano do Tenesse, o vocalista e líder do grupo recebeu o GLOBO, na última quinta-feira, no hotel em que estava hospedado, para falar sobre o lançamento de seu 12º disco de estúdio, “What about now”, que chega às lojas virtuais nesta segunda e às físicas no dia 19, além da participação no Rock in Rio, no dia 20 de setembro.
Com letras como “Não sou um soldado / Mas estou aqui para me posicionar / Porque nós podemos” (de “Because we can”), este novo disco tem sido considerado seu trabalho mais politizado. Você concorda?

Não é um álbum especificamente político. Falo sobre causas sociais, mas não quero politizar ninguém. É um álbum sobre pessoas. Cito os primeiros anos de Barack Obama no poder, mas não diretamente. Não estou aqui para avaliar. Quero falar sobre problemas reais, como um jovem que sai da faculdade, após quatro anos, já cheio de dívidas para pagar. O objetivo sempre é fazer um disco que não seja datado, com mensagens que pessoas no Brasil e em Nashville possam entender e se identificar.

O que exatamente serviu de tema para o processo de composição?

O tema surgiu de um período que durou de setembro de 2011 a junho de 2012. Naquele momento, os Estados Unidos estavam se reerguendo de uma crise econômica, o desemprego não parava de subir. Comecei a escrever sobre o que eu lia nos jornais e sobre o que acontecia na minha vida.

Sua banda costuma ter uma participação ativa em comícios e campanhas a cada eleição presidencial. Você gostaria de ser político?

Não, obrigado. Não estou interessado.

Você tem dito que não era capaz de se imaginar 30 anos depois quando assinou o contrato para lançar seu primeiro disco. E agora, consegue fazer uma projeção do futuro?

Quem sabe como vou estar daqui a alguns anos? Enquanto as pessoas quiserem ir a shows para nos ver, e enquanto eu estiver disposto, vou continuar. Mas digo a mesma coisa desde que eu tinha 25 anos, agora que tenho 51: vocês nunca vão ver nada parecido com um Elvis gordo no palco. Nunca vou ser visto assim. Prefiro sair de cena do que viver de dieta e ficar falando (imita a voz de Elvis) “Ei, baby, Livin’ on a prayer”, com uma barriga enorme. Isso não vai acontecer. Mas não me importo com a tietagem ou com o que pensam de mim. Quero cantar bem e fazer discos que agradem às pessoas.

A turnê “Because we can” começou dois meses antes de o disco ser lançado e, ainda assim, os shows estão esgotados. Você acha que seus fãs vão às apresentações para ouvir os clássicos ou músicas novas?

Foi um risco começar a turnê sem ter o disco pronto. Bandas de rock geralmente não fazem isso. Mas tomei essa decisão porque o disco demorou muito a sair. As músicas ficaram prontas há seis meses. Falei para o meu empresário: “Quero trabalhar!” Não é que eu sinta saudade de sair em turnê, mas o disco estava pronto. Quando se trata de um disco de atualidades, como este, não se pode esperar muito. Os assuntos passam a não ter mais relevância, e as perguntas vão sendo respondidas. Mas não acho que “What about now” seja um disco datado. Não consigo responder se vai ser um disco que ultrapassa décadas sendo atual, porque quando se está envolvido com o processo é impossível ter esse distanciamento. Só vou conseguir ver se foi um bom trabalho e se renderá hits daqui a cerca de um ano.

Os shows da nova turnê têm durado cerca de três horas. Em Nashville, por exemplo, você tocou apenas quatro novas músicas. Há muito espaço para os clássicos, então...

Não posso fazer um show sem tocar certas músicas. Não tocar “Livin’ on a prayer” seria como trair o público. É difícil, mas é preciso aceitar essa responsabilidade. Quando você começa a se sentir cansado da música, é preciso lembrar do quanto ela é importante para aquelas pessoas. Mas acabei de trazer “Runaway” de volta ao setlist. E essa música é mais velha do que muitos fãs.

Vocês já se apresentaram no Rock in Rio em Madri e em Lisboa. Em setembro, participam pela primeira vez na cidade de origem do evento. O que os fez aceitar o convite?

O principal motivo é que desta vez é no Rio. O público brasileiro é maravilhosamente louco. Estou feliz de estar novamente a caminho. Não costumamos tocar em festivais, mas este é icônico. As principais razões que me mantêm longe de um festival é que gosto de tocar pelo tempo que eu quiser, e existe a chance de eu fazer um show de 3 horas no Rock in Rio, se o público quiser. Além disso, gosto de usar o meu equipamento e ter o palco da minha turnê. Mas não sei nada ainda sobre como vai ser esse show. Penso no setlist na hora, e o show só acaba quando sinto que chegou a hora. Sempre há espaço para mais músicas. Por exemplo, “These days” não foi um grande álbum nos Estados Unidos, então para que inserir as músicas no repertório americano? Já “Always” foi um sucesso absoluto, então certamente entra. Vou fazer um show com o que as pessoas querem ouvir.

Você quer ver as outras bandas que vão se apresentar no festival? Já pensa em fazer alguma parceria?

Nickelback e Matchbox 20 são bandas amigas, já tocaram com a gente em outras ocasiões. Mas não pretendo fazer nada com eles. Acho que vai ser divertido ver as bandas brasileiras se apresentando.

Por falar em palco... O desta turnê é bem simples, sem pirotecnia ou telões.

Tenho muitas músicas para mostrar. Tenho um balde cheio de hits, não preciso deste tipo de coisa nonsense e megalomaníaca.

Ao longo desses 30 anos, alguns de vocês já fizeram discos solos. Houve a saída de um dos integrantes, o baixista Alec John Such, em 1994. Richie Sambora foi afastado da última turnê, em 2010, por problemas pessoais, mas os shows continuaram sem ele. Os altos e baixos ficaram no passado?

A banda nunca chegou perto de ter um fim. Houve brigas, claro. E um tempo separados para que cada um fizesse seu álbum solo. É importante dar um espaço para cada um fazer o que quiser. Mas o Bon Jovi sempre esteve no centro.

Algumas bandas têm saído em turnê contemplando um dos discos de sua carreira. Você pensa em fazer isso um dia? Qual disco seria o eleito?

Acho esse formato bem interessante. Existe a chance de fazermos uma turnê dessas. Nunca pensei nisso, mas acho que “Lost Highway” seria um bom álbum, porque é diferente de todos os outros.

Como aconteceu a parceria com o artista chinês Liu Bolin, que fez a capa de “What about now”?

É curioso ver como as coisas mudaram, de vinil para CD, pendrive, e agora tudo se resume a um thumbnail. Ficamos pensando em como poderíamos vender o trabalho naquele espaço pequeno da internet. Acabei indo a uma feira de arte e conheci o trabalho do “homem invisível”. Pensei que ele poderia usar nossa imagem camuflada, como ele costuma fazer, em um desenho para a capa. Os representantes dele me disseram que ele jamais faria um trabalho por encomenda. Para nossa sorte, a mulher dele, que é nossa fã, foi enfática: “Nós vamos para os Estados Unidos conhecer a banda e você vai aceitar esse trabalho!” Eu a conheci e retribuí o favor com mais de uma hora de beijos e abraços. Acabou que, pela primeira vez em minha carreira de 30 anos, tenho uma excelente capa, uma obra de arte, e ainda funciona como realidade aumentada quando projetada no aplicativo que fizemos para celulares e tablets.

Nesses 30 anos, quais são os principais arrependimentos?

A capa de “Slippery when wet” (1986) é um lixo. E temos umas 20 músicas que são terríveis. Mas faz parte da carreira de um artista. Não dá para acertar sempre. Às vezes algumas músicas vão muito abaixo da expectativa, outras vão muito além. Achei que “Welcome to wherever you are” e “Have a nice day” seriam hits e não foram, por exemplo. Por outro lado, eu gostaria que “Livin’ on a prayer” e “Wanted dead or alive” fossem citadas no meu obituário, porque são muito importantes para mim e para a minha carreira.

Enquanto algumas bandas estão perdidas para lidar com a crise econômica nos EUA e Europa, seu nome segue em listas como as da revista “Forbes”, que lhe atribui um patrimônio de US$ 300 milhões. Como vocês driblam tais problemas para inovar e manter os fãs fiéis?

Não se pode seguir o caminho de ninguém, porque o que dá certo para uns não dá para outros. Mas se você for fiel ao que acredita, depois de muito tempo as pessoas vão aceitar o que você faz. E uma carreira é o que temos, como Elton John, U2, Bruce Springsteen, os Rolling Stones... Não venha me falar em carreira de uma banda que tem cinco ou dez anos.

Com o projeto filantrópico Soul Kitchen, você se esforça para levar alimentação a quem não pode pagar em Nova Jersey, seu estado de origem. Você planeja levá-lo a outros lugares?

Quero que as pessoas vejam como é possível fazer um projeto sem levar em conta as fronteiras, idiomas, religiões, opiniões políticas ou esportivas. Todo mundo precisa se alimentar. Qualquer pessoa pode fazer o bem. Estamos planejando expandir para a Pensilvânia em breve. Mas não temos planos de levar a ideia a outros países, porque precisamos nos estabelecer em áreas que conhecemos. Não tenho ideia de como funcionam as leis no Brasil, por exemplo. Também fiz um projeto nos Estados Unidos para construir casas para pessoas pobres. Levei a ideia para Inglaterra e Alemanha, e eles não precisam desse tipo de projeto, porque o governo já ajuda na moradia.

(A repórter Michele Miranda, viajou a convite da Universal Music e entrevistou Jon Bon Jovi)
Fonte: O Globo
Por: Deya Oliveira


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